saudade do vão da escada onde nunca me sentei a crochetar
pintar fitar o nada; contar do teto cada ponto mancha vinco.
saudade. da tinta opaca nunca pegada à parede da sala.
saudade de cada recado jamais escrito na lousa-casa-não-ter-
sido. das festas tantas varando a noite e a madrugada anti-
silêncio anti-lei ou nada. saudades da comida não preparada
louça-peças-pedaços-nós nunca comprados. saudade do
churrasco. que nunca fizemos. amigos copos soltos pelo chão
saudade. de ser mais leve. corpo. pele. coração. saudade das
plantas que nunca foram. do canto. do assento vermelho jamais
destruído pela chuva. saudade de todo esboço de todo vir-a-
ser que nunca tomou corpo. saudade do que então se perde no
infinito-nós e vira grito amor nostalgia e matéria. pras
outras saudades vindouras.
Barrinha, 156, casa 6
Para minhas amigas-esposas, Dani e Malu.