[N.175 | 2025]

Tempo

Dara Ayê

Às vezes
eu queria abraçar o tempo
para que o tempo se acalme.

Eu
acostumada a chegar aos lugares
sempre cedo demais ou tarde demais.
Nunca a tempo.

Eu que caminho tarde adentro
como se estivesse prestes a perder
o último metrô.

Mas se o tempo
resolve deitar no meu colo
de puro encanto
fico imóvel.

São dias em que não há angústia na espera
não há culpa no atraso
há somente um tédio lindo
cheio de adornos:
Liniker no aleatório,
o gostinho gelado do açaí na língua dela
e a súbita compreensão de que tenho dois pés
pisando um chão e em cada pé
eu tenho cinco dedos.
E cada milímetro do meu corpo
é preenchido de carne
e osso
e derme
e piderme
e respiração.
Que ventinho bom
que carinho forte.
E daí que são seis horas? Dorme aqui!