IV
Margô não gostava de bom senso, nunca ligou pra etiqueta, sempre aplaudiu a rebeldia. Parava em qualquer bar que lhe servisse um bom uísque. Seus melhores amigos eram os discos dos Sex Pistols. Ela tinha uma tara por bolinhas de sabão e havia enfeitado sua bicicleta com rosas vermelhas. Margarida mudou seu nome, não tem telefone e ainda aperta a campainha dos vizinhos. Tornou-se Margô, que detestava o calor infernal do Rio, não costumava ir à praia e nem sabia sambar. Cortou seu cabelo com uma navalha no dia em que foi traída, pintou de preto, fez sua primeira tatuagem – o mapa-mundi na coxa – e pôs um piercing no mamilo. Suas unhas esmaltadas eram vermelhas como seus lábios. Seus olhos, castanhos, seu pijama, verde, com babados.
VIII
Marisa, diaconisa.
Tem cabelos roxos, pele escura e sorriso largo, mas dissimulado.
Enviuvou na juventude e nunca mais amou.
Não muda o tom de voz, nem por uma rouquidão.
Delicada, delinquente, cheia de disse me disse.
Pariu Cláudia, Cecília, Cléo, Cármen.
Carola, Celeste, Camila, Clarisse e Conceição.
No sétimo dia descansou.
IX
Terezinha teve 16 filhos homens, com 16 pais diferentes.
Só parou de parir quando Aline nasceu.
Seu primeiro neto morreu no parto.
Terezinha fugiu com o pequeno defunto numa caixa de sapatos.
Não tinha dinheiro pra pagar os serviços funerários.
Ela namorou um homem que trabalhava no Banco do Brasil.
Mas não era banqueiro.
Era vendedor de balas, em frente à agência da rua Sete de Setembro.
Terezinha amava gargalhadas. Preferia chicletes de uva a menta
Era colecionadora de sotaques. Nunca viu o mar.