[N.217 | 2025]

A contagem dos sonhos [fragmento]

Chimamanda Ngozi Adichie

Um dia, em meio a essa nova vida suspensa, encontrei um cabelo branco na cabeça. Apareceu da noite para o dia, perto da minha têmpora, bem crespo, e, no espelho do banheiro, a princípio achei que fosse um fiapo de roupa. Um fio branco solitário, com um leve brilho. Estiquei-o completamente, soltei e depois estiquei de novo. Não arranquei. Pensei: Estou ficando velha. Estou ficando velha, o mundo mudou e ninguém nunca me conheceu de verdade. Uma torrente de pura melancolia encheu de lágrimas meus olhos.


Isso é mesmo tudo, esse frágil inspirar e expirar. Para onde foram todos os anos, será que aproveitei a vida ao máximo? Mas qual é a medida absoluta de aproveitamento máximo da vida, e como eu poderia saber?


Olhar para trás, para o passado, era ser inundada de pesar. Não sei o que veio primeiro — se comecei a nutrir arrependimentos e então dei um google nos homens do meu passado, ou se procurar os homens do meu passado me fez afundar num mar de arrependimentos.


Pensei em todos os começos, e na leveza de ser que surge com eles. Lamentei pelo tempo perdido na esperança de que aquilo que eu tinha se transformasse em maravilhamento. Lamentei por uma coisa que nem sabia se era verdadeira: que, em algum lugar, havia alguém que cruzou meu caminho e que poderia não apenas ter me amado, mas ter me conhecido de verdade.