Quando Juventina, meio sufocada, sentiu uma forte dor no peito, e o mundo rodopiou ao seus pés, ela cambaleou e, quase caindo, chamou por nós. Quem a viu de perto pôde perceber o tom acinzentado que se intrometeu em seu rosto negro por uns instantes e o leve tremor de seus lábios. Repentinamente, porém, ela pareceu ter reconquistado o equilíbrio. Nós, suas amigas, preocupadas com qualquer mal súbito que pudesse atingir Juventina, começamos a emitir ordens buscando confirmar se o vigor pairava ou não na vida dela.
– Levante os braços, Juventina, e venha até aqui em linha reta!
Juventina, com os braços para o alto, andou com tal leveza que mais parecia dançar sobre as águas tranquilas de um rio.
– Juventina, ande de fasto até encostar-se ao muro!
Ela andou tão ereta e sem qualquer interrupção, como se estivesse sendo vítima de um ímã a lhe puxar pelas costas, jogando-a no caminho do passado e não lhe permitindo a deslembrança de qualquer detalhe.
– Cante uma de suas músicas, Juventina!
Então, uma voz cálida de tons diversos, em acordes de fazer dormir e acordar humanos, bichos, estrelas, pedras, plantas, enfim toda natureza, rompeu o espaço, silenciando os nossos amedrontados murmúrios, e imperou sozinha no tempo.
E para o nosso espanto – e, ao mesmo tempo, para nossa tranquilidade –, Juventina não só cantou, mas cantou a música de sua preferência, a “Canção para ninar menino grande”. Choramos e sorrimos aliviadas, embora eu ainda me recusasse a acreditar que a dor no peito de Juventina fosse apenas qualquer mal passageiro. Insistentemente, vigiava todo o corpo dela, temendo pela vida, ou melhor, pela morte dela. Ainda assim, Juventina estava bem, nada esmorecia nela. A dor no peito e os passos cambaleantes de minutos atrás, sintomas sem explicação, só podiam ser nada então. E depois, no decorrer de minha conversa com ela, quando já estávamos nós duas somente, foi que entendi. Era dor sim, a maior. E Juventina sabia qual. Dor de amor, ela me contou mais tarde. Não que estivesse apaixonada. Não, não mais. Não mais. Agora ela só era Juventina. Paixões eram do tempo que ela era Tina. Agora, só lembranças do que fora Tina.