[N. 237]

Feitiços: Fazer amor com árvores [fragmento]

Agnieszka Szpila

Da casa do ferreiro Karl Schmied, que ficava em uma colina fora dos muros da cidade, tinha-se uma bela vista da floresta situada no vale do rio. Helene adotou o nome do marido apenas formalmente, autodenominando-se Spalt como antes. A floresta a chamava dia e noite, enviando mensageiros à casa do ferreiro. Veados, javalis e castores chegavam às janelas e Helene os alimentava com o que podia, cuidando deles.

E eles teriam vivido bem juntos, não fosse pela tristeza que Karl começou a sentir logo após o casamento, quando percebeu que não podia possuir sua bela e jovem esposa, porque seu pau falhava. Pau de que ele tanto se orgulhara até então.

O ferreiro Karl Schmied, que não sabia que sua impotência iria perpassar o casamento, muitas vezes chorava no canto da ferraria, tomado de um grande sentimento de culpa por ter arrastado a garota a tal pântano. Helene mal tinha passado das dezesseis primaveras e, como ele também não era velho, tendo vinte e quatro anos, estavam condenados, segundo ele, a uma longa vida privada do amor carnal, a menos que alguém pudesse curá-lo de sua atrofia.

Ele não sabia, coitado, que todos os dias era embebedado não só com cerveja, da qual não poderia abrir mão, assim como de Deus, mas também com uma decocção tão forte que nem mesmo um cachorro levantaria o pau ao ver uma cadela no cio. Ele quase parou de comer, bebia pouco, perdia peso, perturbava-se e não dormia. E como Helene tinha pena dele, porque era um bom marido, zeloso no trabalho, terno todos os dias, preocupando-se com o bem-estar dela e de Kunegunde, ela começou a deixá-lo se aproximar aos poucos, mas apenas quando ele não estava sofrendo com a impotência de seu pau, e este permanecia num sono patético enquanto Karl se divertia com Helene. Então, ela amassava o pau com as mãos, como se sovasse uma massa; o embebia numa tigela de leite aquecido e o balançava alegremente para direita e para esquerda, tratando-o mais como um animalzinho querido do que como um fragmento de humanidade que deveria ser temido.

E como a procura pelas ervas anteriormente preparadas por Kunegunde passou a ser cada vez maior entre as mulheres de Nysa e região, elas começaram a fazer fortuna e se tornaram objeto de adoração das mulheres, salvas da opressão das alcovas.

A notícia sobre uma mistura que impedia a ereção dos membros masculinos espalhou-se graças a Kunegunde Kreppel. Junto com Helene, ela vendia potes de seu delicioso queijo cremoso no mercado de quinta-feira e, ouvindo os papos das mulheres, em especial sobre a alcova, aproveitava para mencionar que, além dos queijos saborosos, também disponibilizavam secretamente medicamentos femininos. Estas, pomadas para beleza; estas, para um coração partido; estas, para o nervosismo excessivo, informalmente chamado de “encheção de saco” pelos homens; estas, para as questões ditas embaraçosas: corrimento, menstruação atrasada, gravidez indesejada, excesso de potência do marido que só espera a noite para poder debulhar a coitada, em vez de lhe dar um pouco de descanso.

E como o último problema dominava as conversas quase todas as quintas-feiras, Kunegunde recomendava de forma cada vez mais ousada o seu principal produto: o antipau, querendo aliviar as mulheres de seu infortúnio, que causava grande sofrimento quando o marido, tendo experimentado pouca ou nenhuma felicidade na alcova do lar, direcionava seu interesse para outras fendas. Quantas lágrimas derramadas por causa disso! Quanta encheção de saco! E assim surgiu o ódio entre as mulheres, assim como a inveja. Kreppel sabia que de todos os produtos que ofereciam, além do queijo e do leite, era o antipau que merecia o maior reconhecimento. E assim, em vez de preparar iguarias finas que aumentassem o desejo dos futuros ou atuais cônjuges, as mulheres de Nysa acrescentavam gotas de antipau às suas bebidas alcoólicas, deixando os maridos cada vez mais frustrados. Os penduricalhos flácidos e passivos, que haviam perdido o vigor e a vida, pendiam entre as pernas durante o dia, como um rabo de esquilo quebrado ou talvez deslocado e, à noite, descansavam passivamente sobre o dono, esperando por dias melhores. Flautinhas quentes que podiam ser apertadas como caninanas ou lagartas, permitindo que as mulheres finalmente descansassem do parto e dos usos que os homens lhes davam, e que transferissem sua atenção para outros objetos sexuais, não relacionados à carne humana, que elas experimentavam ao incendiarem as vulvas.

Era exatamente para isso, para essa prática misteriosa, que Helene, ela mesma, as preparava e as examinava para confirmar que estavam prontas para a revelação, não a divulgando para qualquer uma. Aquelas sobre quem tinha certeza, ela e Kunegunde convidavam para uma clareira na floresta rio abaixo, na sexta-feira, logo após o crepúsculo, sob um grande carvalho. Ali todas se dedicavam a orações cheias de prazer que terminavam num êxtase poderoso e compartilhado e um tremor que perfurava o coração e a alma.

O episódio que revelou a política traiçoeira das mulheres para com todo ducado e arredores ocorreu num dos principais puteiros de Nysa, onde um cliente, cirurgião-barbeiro da corte do bispo Johannes von Sitch, depois de pagar pelo serviço pela nona vez no mesmo mês, não conseguiu desfrutá-lo porque seu pau mal funcionava. Dessa vez, ele decidiu escapar do quartinho destinado às brincadeiras e espiar o que estava acontecendo na cozinha do bordel. Quando viu a cozinheira despejar a decocção de um grande caldeirão com uma concha de estanho na jarra de cerveja, entendeu tudo imediatamente e, batendo a porta, correu com essa revelação direto para a Câmara Municipal e denunciou o caso do envenenamento por ervas perante o tribunal da cidade.

E assim que descobriram que era Helene, esposa do ferreiro Karl Schmied – que, ao contrário do que constava nos registros de casamento, sempre se apresentava como Spalt –, junto com Kunegunde Kreppel, que morava na casa deles por motivo desconhecido, as responsáveis por distribuir secretamente o medicamento entre as mulheres no mercado, foi decidido que as duas seriam interrogadas…

Quando se espalhou a notícia de que aquelas mulheres vinham envenenando os maridos da região ao longo dos últimos meses, o que resultara na queda dramática do número de gestações em todo o ducado, algo que a Igreja considerava um pecado e um ataque contra a instituição, Helene e Kunegunde foram punidas com uma multa alta: doze ducados cada. O que era toda a fortuna das duas, diligentemente escondida de Karl Schmied, que conquistaram vendendo não só queijo e leite, mas também medicamentos fitoterápicos para mulheres, suas próprias receitas.

Além disso, elas tiveram mais problemas decorrentes dessa questão. Primeiro, ganharam fama no ducado. Não eram mais a muda Helene Spalt e a ex-puta Kunegunde Kreppel. Tornaram-se uma semente traiçoeira, um joio satânico para o duque, o bispo Johannes von Sitch e todo o canonicato, que governava o ducado tentando sobretudo difundir valores burgueses verdadeiramente virtuosos entre os habitantes da cidade e inculcar nas mulheres a obrigação de parir filhos e educá-los como bons católicos.

Depois de saber de tudo, Karl, pela primeira vez desde o саsamento, gritou com os homens da taberna que conversavam sobre o assunto, xingando e agitando as mãos, amaldiçoando o mundo todo pela união com Helene. Em seguida, tendo bebido mais cerveja do que de costume, voltou para casa e a arrastou, sem dizer uma palavra, para o leito conjugal. E quando ela se deitou ao lado dele, como ele ordenara, ela sentiu, em vez do animalzinho encolhido e fofinho, uma vara dura como uma estaca, que ela conhecia do corte das necroses.

Tentou ainda se esquivar, em vão. Ele a tomou como havia sonhado durante mais de doze meses, de todas as maneiras possíveis, até quase a alvorada. Sem repouso, sem descanso, penetrando-a de novo e de novo, caindo apenas por um momento, somente para que a força dentro de si, atiçada pela raiva, crescesse mais uma vez.

E Helene, fechando as pálpebras, tentou com todas as forças não emitir nenhum som, sentindo que só dessa forma, freando, amontoando o que lhe chegava aos lábios, enfiando de volta na garganta o grito animal que nascia dentro dela, ela transformaria a impotência em poder e o preto mais escuro em um brilho ofuscante. E talvez conseguisse convocar aquela que ilumina a escuridão e guia nos momentos mais difíceis. Até que, ao sufocar sua respiração ao mínimo necessário para sobreviver na letargia, para paralisar seu corpo e ficar imóvel, ela foi capaz de fazer o que a Antiga Virgem lhe ensinara: viu-se em outro lugar. Conseguiu o que só tinha conseguido alcançar depois de um transe necrosado, quando levitou acima da terra ou descansou sobre ela como se estivesse sem vida – estabeleceu contato com Ela, fundiram-se em uma só, abandonando seu revestimento terreno putrefativo.

As árvores a chamavam com ternura; ela quase conseguia ouvir seu nome no farfalhar. E, então, viu a clareira necrosada. No sol e na chuva. Simultaneamente. Na clareira havia um círculo de mulheres disposto em torno do grande carvalho, do qual brotavam os bagos de beladona. Uma das mulheres parecia assombrosamente com Helene. Seus pés se tocavam. Os joelhos estavam dobrados e as pernas bem abertas. Como se alimentassem as fendas com a chuva. Como se estivessem dando de beber às suas vulvas. Inteiras encharcadas, com quadris levantados para que as gotas, como o sêmen masculino destinado a engravidar a mulher, penetrassem fundo nelas e se fixassem nas profundezas. Onde a vida começa. Estavam tensas como cordas, pois também sentiam prazer ao acolher a chuva dentro de si. A casca do carvalho estava perfurada por tubos de onde fluía uma seiva dourada. Ela pingava em canecos. Um para cada uma delas. Doze mulheres. Doze jarros. Doze tormentos da alma e relâmpagos do corpo. De repente, a mulher parecida com Helene se transformou em uma velha sorridente, e depois em uma criança ofegante, também assustadora e desdentada.

Helene, sob a influência da visão da Antiga Virgem, соmeçou a acolher Karl dentro dela de forma diferente. Como a chuva.

E quando chegou a aurora, depois de ter gastado toda a energia vital nessa única e verdadeira noite de casados, Kar Schmied estava morto. Expirou exatamente quando uma nova vida foi concebida em sua jovem esposa, Helene Spalt, que passou a se chamar Schmied. Uma vida na qual as partículas de todas as criaturas nascidas desde o início dos tempos (as da água, as da terra e as do céu) penetraram pelo ar.