[N.173 | 2025]

Garota, mulher, outras [fragmento]

Bernardine Evaristo

fazia muito tempo que Amma não tinha mais interesse em pular de cama em cama; com o passar dos anos começou a desejar a intimidade de estar emocional mas não exclusivamente ligada a uma pessoa
relações não monogâmicas são a praia dela, ou agora se diz poliamor? é como Yazz descreve, mas até onde ela enxerga o poliamor é não monogâmico em tudo menos no nome, pirralha

há Dolores, uma designer gráfica que mora em Brighton, e Jackie, uma terapeuta ocupacional de Highgate
elas entraram em cena há sete e três anos, respectivamente, e são mulheres independentes que têm vidas cheias (e filhos) fora do relacionamento com ela
não são grudentas nem carentes nem ciumentas nem possessivas, e de fato gostam uma da outra, então, sim, às vezes elas se permitem um pequeno ménage à trois
em certas ocasiões
(Yazz ficaria horrorizada se soubesse disso)

a Amma de meia-idade às vezes sente saudade da época de sua juventude, lembra da única vez em que ela e Dominique foram ao lendário Gateways
escondido num porão em Chelsea nos últimos anos de seus cinquenta de existência
estava quase vazio, duas mulheres de meia-idade de cabelo curto e usando terno ali de pé no bar como se tivessem saído direto das páginas de O poço da solidão
a pista de dança estava pouco iluminada, e duas mulheres bem velhas e bem baixinhas, uma de terno preto, a outra com um vestido estilo anos 40, dançavam “The look of Love”, da Dusty Springfield, de rosto colado
e não havia nem uma bola espelhada girando no meio do teto e espalhando coraçõezinhos em cima delas.