empoderamento

  • .: Fímbria

    Fímbria

    Pi Rossi

    Sentadas numas cadeiras azuis de plástico, uma mulher grávida e sua mãe aguardam o chamado do médico. A mulher conserva algo de menina: seu jeito, a roupa rosa bebê com dourado. Está aérea, quase fora de si. A mãe coleciona rugas e o cansaço de uma segunda – talvez terceira – gravidez; zela de perto […]

  • .: corpo dourado em dendê

    corpo dourado em dendê

    Steffane Santos

    um corpo que inventa suas rotas de fuga, sua vista clara, seu desejo ácido, que descobre a si mesmo como salvação, enquanto nega as mãos brancas que se aproximam. que resgata a si próprio, que quando sem saída entende-se como um corpo que gira, que roda e que circula. […]

  • .: O tempo

    O tempo

    Renata C. Moura

    O tempo não se mede em relógios, e não é o espelho que me revela o tempo. Ele não me chega em linhas visíveis; o tempo costuma aparecer quando estou distraída. Outro dia nos encontramos quando eu ria, o riso me escapava leve e longo, como se carregasse outros tantos risos que já dei. […]

  • .: Peitos e ovos [fragmento]

    Tomamos cerveja e comemos os vários petiscos servidos na mesa. Tudo estava uma delícia, mas Yusa elogiou muito minha omelete em estilo de Kansai. Ela me entregou uma folha grande do bloco de post-it que pegara de algum lugar e me pediu a receita. Escrevi: quatro ovos, meia colher de sopa de shirodashi, uma pitada […]

  • .: O gosto da voz

    O gosto da voz

    Autora anônima

    Um quadril que balança solto. Um quadril que dança, ativo, em encontro com a música. Esse foi o ponto que toquei ontem em minha sexualidade. O ventre que abrigou dois filhos e se abriu para a passagem deles se move agora em solitude, em encontro comigo. O desejo da maternidade, tão vivo em mim desde […]

  • .: Nascer

    Nascer

    Andréa Cançado

    Transcorridos mais de três meses, quase quatro, ainda não se entendiam. A vida seguia um inferno e, sem se dar conta, o novo ser se apropriava do seu corpo. Seria mãe. Numa tarde, uma tarde de primavera, ela dirigia por uma avenida imensa, lotada de carros, tantos que seu olhar não alcançava o começo da […]

  • .: A maternidade é sempre política para mães negras

    Quando eu tinha uns sete ou oito anos, minha mãe costumava colocar para tocar, todo dia antes de sairmos para a escola e para o trabalho, a música Greatest Love of All (O maior amor de todos), da Whitney Houston, e cantávamos junto do início ao fim. De pé na sala, logo antes de vestirmos […]

  • .: O segundo nome de nenê

    as mãos trêmulas de elza seguraram o bebê que acabara de nascer. antes que o corpinho lambuzado de sangue e vérnix encostasse o chão de terra batida, ela aparou a criança e a encaixou no meio dos seios. o choro silencioso da mãe, entrecortado pelo choro recém-nascido da filha, ambos abafados pelos trovões […]