[ arquivo ]
memória
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.: Ancestralidade feminina
Ancestralidade feminina
Bella BettoniO amor é como um bordado:
meu nome gravado nas toalhas com as letras cuidadosamente desenhadas,
o crochê das tias, dedos que dançam para escrever o afeto,
as roupas costuradas pela avó com os restos dos sacos,
a bainha da calça feita pela mãe,
também eu – interessada nas arpilleras hermanas – compro novelos no […] -
.: Sobre amor e genética [fragmento]
Sobre amor e genética [fragmento]
Luísa Rocha VasconcelosComecei a pensar na maternidade e na solidão da minha mãe numa segunda à noite. Ela tem mãe, irmã e sobrinhos, e ainda assim há momentos em que ela não escapa ao abandono que vem junto com o papel de mãe solo – um deles se apresentou logo no início desta semana, às 22h50, envolvendo […]
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.: Contínuo [fragmento]
Contínuo [fragmento]
Sarah MangusoEntão me tornei mãe. Comecei a habitar o tempo de outro jeito. Tinha algo a ver com a mortalidade. Continuei escrevendo o diário, mas minha preocupação em relação às memórias perdidas começou a arrefecer. • Amamentar um bebê cria tanto tempo perdido, vazio. Da mamada noturna do bebê eu não me lembro de nada. Da […]
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.: Melhor não contar [fragmento]
Melhor não contar [fragmento]
Tatiana Salem LevyQuando falo sobre ela para meus filhos, estou lhes mostrando como ela era ou como eu sou? Quanto eu me pareço com ela? Quanto eu sou ela? Quanto ela sou eu? Quanto resta de uma pessoa morta em nós? Quanto de nós uma pessoa morta leva? […]
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.: A analfabeta [fragmento]
A analfabeta [fragmento]
Ágota KristófFico sabendo pelos jornais e pela televisão que uma criança turca de 10 anos morreu de frio e de exaustão enquanto tentava atravessar clandestinamente a fronteira suíça junto a seus pais. Os “coiotes” os deixaram perto da fronteira. Eles só tinham que andar sempre em frente em linha reta até chegarem ao primeiro vilarejo suíço. […]
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.: Frio o bastante para nevar [fragmento]
Frio o bastante para nevar [fragmento]
Jessica AuEu me dei conta de que, com a idade que eu tinha agora, minha mãe já fizera uma nova vida para si mesma em um novo país. Ela já havia se tornado mãe de um novo bebê e provavelmente era capaz de contar em uma só mão o número de vezes que retornaria a Hong […]
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.: A água é uma máquina do tempo [fragmento]
A água é uma máquina do tempo [fragmento]
Aline MottaNão tinha corpo e ainda brincava de bonecas. Lavava com sangue as bacias sujas do parto interrompido. O ventre se contraía e o feto escorregava ainda sem forma a cada gravidez malsucedida. Resíduos que traziam a memória da denúncia. Era o seu jeito de dizer não. A barriga não segurava bebês, ainda era um lugar […]
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.: Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento de minha escrita
Talvez o primeiro sinal gráfico, que me foi apresentado como escrita, tenha vindo de um gesto antigo de minha mãe. Ancestral, quem sabe? Pois de quem ela teria herdado aquele ensinamento, a não ser dos seus, os mais antigos ainda? Ainda me lembro, o lápis era um graveto, quase sempre em forma de uma forquilha, […]
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.: Mar azul – carta para Juno
Mar azul – carta para Juno
Ana CarvalhoDeu no rádio que o sol nasceu hoje às 5h25 e que irá se por às 17h19. O repórter anunciou, ainda, a tábua de maré – a BAIXA-MAR, a PREIA-MAR. As alterações de pressão têm uma grande influência na atividade dos peixes. Eles se agitam nas pressões mais altas, e isso é um bom sinal […]