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Esta curadoria apresenta uma seleção de textos das participantes de oficinas de leitura e escrita da maternidade, realizadas entre 2021 e 2022, por nós, Cacau Araujo e Gabriela do Amaral, duo de mães artistas à frente do coletivo línguamãe. O que está aqui reunido foi publicado na coletânea “Te coloco onde você não está”, lançada em maio de 2022. A publicação digital buscou criar um espaço para acolher e promover mães escritoras, reafirmando o que acreditamos enquanto artistas e mães: é urgente ocupar os espaços e escrevê-los numa língua materna.
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.: Línguamãe
Línguamãe
Cacau Araújo e Gabriela do Amaraller: LínguamãeEsta curadoria apresenta uma seleção de textos das participantes de oficinas de leitura e escrita da maternidade, realizadas entre 2021 e 2022, por nós, Cacau Araujo e Gabriela do Amaral, duo de mães artistas à frente do coletivo línguamãe. O […]
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.: Carta em Matrioshka
Carta em Matrioshka
Camila Parducciler: Carta em MatrioshkaVó,
Como você está?
Por aqui, as coisas vão crescendo, meus planos tomando forma e me sinto mais ativa de novo. Não que antes estivesse parada, o que acontece agora é que estou tendo mais espaço para mim. Minha bebê começou a andar, está mamando menos, consegue ficar mais tempo com outras pessoas […] -
.: Procura-se
Procura-se
Eline Simõesler: Procura-seProcura-se por um par de ouvidos, que seja capaz de escutar no silêncio.
Que entenda que a escuta é mágica para organizar a alma de quem fala.
Que saiba que não é para escapar, que é preciso encarar. […] -
.: Tom Sereno
Tom Sereno
Fernanda de Almeidaler: Tom Serenome, Sereno. Que eu chamo baixinho enquanto deixo a água cair barulhenta sobre a barriga redonda e imensa. Barriga-casa. Corpo-mãe. Teus chutes inesperados enquanto meu sono chega. O estômago esmagado, tentando digerir a janta e os dias – essa contagem regressiva que tantas vezes me apavora. […]
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.: Elisa precisa
Elisa precisa
Laura Bettiniler: Elisa precisaAs coisas não precisam de mim
A arte
A academia
As letras
A casa
As lojas
Os homens […] -
.: Um tronco para chamar de meu
Um tronco para chamar de meu
Luiza Bussiusler: Um tronco para chamar de meuSempre gostei das idas à fazenda. Tinha um ar de aventura e liberdade. Íamos umas 12 crianças na caçamba da caminhonete. Lembro de ansiar esses momentos. As férias. Todos os anos, viajávamos para a cidade materna de minha mãe. Onde moro atualmente, que ironia. […]
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.: Placenta
Placenta
Maíra K.ler: Placentateu filho gritando
feliz
teu filho
de boca aberta
é a primeira vez que ele vê
o mar […] -
.: Eu não estou escrevendo
Eu não estou escrevendo
Maíra Tukui Ribeiroler: Eu não estou escrevendoEu não estou escrevendo um diário sobre o exílio espontâneo que realizei pela América do Sul, começando pela Amazônia. Este diário poderia ser uma etnobiografia, contando sobre meu encontro com Dona Mariana, uma pajé Macuxi, e meu batismo como Tukui. […]
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.: Carta sobre vó
Carta sobre vó
Marcela Helena Lopesler: Carta sobre vótrouxe um pouquinho de casa comigo. devorei tudo em dois dias. fui afoita, botando gomo após gomo de fruta após fruta na boca, acho que para ver se molhava um pouco por dentro. eu costumo ser muito cheia de água, mas percebo que estou secando. […]
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.: Beethoven
Beethoven
Mariela Lambertiler: BeethovenDomingo, pão de queijo, suco de laranja, 28 graus ainda de manhã, programa cultural: assistir à Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Beethoven. Sair com um bebê sempre significa caos e organização. Mesmo se organizar direitinho, vai ser caótico em alguma medida. Sempre. […]
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.: O que não estou escrevendo
O que não estou escrevendo
Marina F. Gonçalvesler: O que não estou escrevendoNão estou escrevendo sobre as coisas incríveis que observo no desenvolvimento da linguagem e da comunicação com o mundo do Camilo. Que antes todas as peças de roupas eram blusas, agora só as meias são blusas e o restante é roupa. Se falo: vamos colocar uma meia? Ele abre a gaveta, pega as meias, olha […]
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.: Mármores
Mármores
Suzana Villaverdeler: MármoresUm pai, uma avó, um avô, que não existem mais.
Você, criança, de aniversário. Dois anos, pouquinho de tempo de vida, mais curto que sua dor mais recente. Na foto, sorrisos. […] -
.: O começo do outro
O começo do outro
Val Prochnowler: O começo do outroeu fui aquilo que jamais ousei. era algum lugar impreciso e o corpo sabia. o começo do outro, o vazio daquela barriga impossível. eu já não fui. sentada numa cadeira vermelha da cor do sangue que ainda despenca entre as pernas, eu não sabia
que o sangue ainda permaneceria. eu fui o sangue. […]