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  • A contagem dos sonhos [fragmento]

    Chimamanda Ngozi Adichie
    N.217 | 2025

    Um fio branco solitário, com um leve brilho. Estiquei-o completamente, soltei e depois estiquei de novo. Não arranquei. Pensei: Estou ficando velha. Estou ficando velha, o mundo mudou e ninguém nunca me conheceu de verdade. Uma torrente de pura melancolia encheu de lágrimas meus olhos. […]

  • Cartas a uma negra [fragmento]

    Françoise Ega
    N.216 | 2025

    […] onde moro, são cinco pares de pés para calçar, dez braços gelados para abraçar o meu pescoço, cinco cabeças que continuam a repousar no meu peito, embora eu force a barra para achá-los grandes demais e sabichões demais para isso. […]

  • Receita de despedida

    Marina Apolinário
    N.215 | 2025

    Quero aprender a fermentar legumes, usar missôs, enfiar a faca num corte certeiro, temperar, não comer cru, nem queimar a boca. Sentir o gosto, a textura e o cheiro das palavras. Dizer das nozes-moscadas que ralei mais do que deveria e que, mesmo tão pequenas, roubaram o sabor do meu prato; das águas que ferveram […]

  • Mesmo com medo

    Beatriz Lobato
    N.214 | 2025

    Quando pequena, eu sentia o frio na barriga ao pular de um lugar alto, subir na torre onde ficava a caixa d’água no terreno do meu avô. Era divertido explorar o mundo olhando de cima, com aquela sensação agitada de saber que bastava segurar firme e tudo ficaria bem. […]

  • Invento de gente [fragmento]

    Ventura Profana
    N.213 | 2025

    Terezinha teve 16 filhos homens, com 16 pais diferentes.
    Só parou de parir quando Aline nasceu.
    Seu primeiro neto morreu no parto.
    Terezinha fugiu com o pequeno defunto numa caixa de sapatos.
    Não tinha dinheiro pra pagar os serviços funerários. […]

  • Auto amor

    Jovina Souza
    N.212 | 2025

    Abro-me para os prazeres do mundo,
    das auroras e das estrelas. Com eles faço a cama onde me deito.
    Caso fiquem ainda os espinhos da vida,
    sou minha própria mãe, acaricio meus pés,
    lavo o corpo com alfazema, begericum
    e folhas de arruda para o afago das Deusas. […]

  • cuíer paradiso

    tatiana nascimento
    N.211 | 2025

    o paraíso cuíer podia ser um lugar muito simples:
    encostar a cabeça no meio das suas teta, ou
    te receber no meio das minhas coxa […]

  • corpo dourado em dendê

    Steffane Santos
    N.210 | 2025

    um corpo que inventa suas rotas de fuga, sua vista clara, seu desejo ácido, que descobre a si mesmo como salvação, enquanto nega as mãos brancas que se aproximam. que resgata a si próprio, que quando sem saída entende-se como um corpo que gira, que roda e que circula. […]

  • Use o Alicate Agora [fragmento]

    Natasha Felix
    N.209 | 2025

    1. Que bom é não estar. […]