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  • O tempo

    Renata C. Moura
    N.181 | 2025

    O tempo não se mede em relógios, e não é o espelho que me revela o tempo. Ele não me chega em linhas visíveis; o tempo costuma aparecer quando estou distraída. Outro dia nos encontramos quando eu ria, o riso me escapava leve e longo, como se carregasse outros tantos risos que já dei. […]

  • Eu que nunca tive Nescau aprendi a segurar o Toddy Ela café preto, forte, sem açúcar
    Não veio para ser segura
    Pura era a cachaça que eu tomava antes de proferir cada palavra sobre ela Ela, curando ressaca, tava farta dos vícios que eu romantizava […]

  • Jusante, Caroço

    Navalha
    N.179 | 2025

    Tem algo crescendo dentro de mim
    Aperta minhas vísceras e
    Toma o espaço por elas ocupado Infla, como baiacu
    Expande feito grama no campo
    Alonga desafogado o tal algo […]

  • Fica viva

    Leíner Hoki
    N.178 | 2025

    eu choro alto eu engasgo
    a minha carne exala e arde
    eu não peço pra parar não queria?
    e se eu morrer queimada tia
    eu vou feder
    com minhas irmãs
    o continente inteiro […]

  • Eu perdi minha mãe na praia

    Gabriela Conrado
    N.177 | 2025

    sempre fiz o trabalho
    por nós duas
    na construção de nossos castelinhos de areia
    na beira da praia
    era eu que enfiava meus dedos aguados
    entre areia concha sal […]

  • cotidiano

    Emmanuelle Rosa
    N.176 | 2025

    não tem ninguém esperando no banquinho de cimento na frente do portão
    cotidiana é a saudade de um amor que me levante
    mesmo que a dor seja em outro lugar […]

  • Tempo

    Dara Ayê
    N.175 | 2025

    Às vezes
    eu queria abraçar o tempo
    para que o tempo se acalme. Eu
    acostumada a chegar aos lugares
    sempre cedo demais ou tarde demais.
    Nunca a tempo. Eu que caminho tarde adentro
    como se estivesse prestes a perder
    o último metrô. […]

  • anti-memória

    Bruna Stéphane Oliveira
    N.174 | 2025

    saudade do vão da escada onde nunca me sentei a crochetar
    pintar fitar o nada; contar do teto cada ponto mancha vinco.
    saudade. da tinta opaca nunca pegada à parede da sala.
    saudade de cada recado jamais escrito na lousa-casa-não-ter-
    sido. das festas tantas varando a noite e a madrugada anti-
    silêncio anti-lei ou nada. […]

  • Garota, mulher, outras [fragmento]

    Bernardine Evaristo
    N.173 | 2025

    elas entraram em cena há sete e três anos, respectivamente, e são mulheres independentes que têm vidas cheias (e filhos) fora do relacionamento com ela não são grudentas nem carentes nem ciumentas nem possessivas, e de fato gostam uma da outra, então, sim, às vezes elas se permitem um pequeno ménage à trois […]