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  • Ancestralidade feminina

    Bella Bettoni
    N.172 | 2025

    O amor é como um bordado:
    meu nome gravado nas toalhas com as letras cuidadosamente desenhadas,
    o crochê das tias, dedos que dançam para escrever o afeto,
    as roupas costuradas pela avó com os restos dos sacos,
    a bainha da calça feita pela mãe,
    também eu – interessada nas arpilleras hermanas – compro novelos no […]

  • Re-escrituras para Cintura Fina

    Bárbara Macedo
    N.171 | 2025

    É sabido que a imprensa ainda utiliza a lógica transfóbica para se referir a nós, pessoas trans. Nos matando em suas manchetes mesmo quando o corpo já não respira e o sangue já não circula. Mas me chama a atenção a associação de Cintura Fina a uma malandra, já que naquela lista, além de “refinada […]

  • Rilke Shake [fragmento]

    Angélica Freitas
    N.170 | 2025

    na rua, minha mão
    deslizava por sua cintura, ela
    ria, não dizia nada
    quando dizia era
    não se acostume
    comigo logo você
    vai
    embora. […]

  • No lugar de um prefácio

    Anna Akhmátova
    N.169 | 2025

    “Nos anos terríveis da Iejovshtchina, passei dezessete meses fazendo fila diante das prisões de Leningrado. Um dia alguém me “reconheceu”. Aí, uma mulher de lábios lívidos que, naturalmente, jamais ouvira falar em meu nome, saiu daquele torpor em que sempre ficávamos e, falando pertinho do meu ouvido (ali todas nós só falávamos sussurrando), me perguntou:
    […]

  • Sobre amor e genética [fragmento]

    Luísa Rocha Vasconcelos
    N.168 | 2025

    Comecei a pensar na maternidade e na solidão da minha mãe numa segunda à noite. Ela tem mãe, irmã e sobrinhos, e ainda assim há momentos em que ela não escapa ao abandono que vem junto com o papel de mãe solo – um deles se apresentou logo no início desta semana, às 22h50, envolvendo […]

  • Contínuo [fragmento]

    Sarah Manguso
    N. 167 | 2025

    Então me tornei mãe. Comecei a habitar o tempo de outro jeito. Tinha algo a ver com a mortalidade. Continuei escrevendo o diário, mas minha preocupação em relação às memórias perdidas começou a arrefecer. • Amamentar um bebê cria tanto tempo perdido, vazio. Da mamada noturna do bebê eu não me lembro de nada. Da […]

  • Um em cada quatro

    Francesca Cricelli
    N. 166 | 2025

    Aqui na Islândia eu crio os filhos dos outros. Os pais destas crianças não sabem que ajoelhada amparando-os há uma escritora, tradutora, muito menos uma pesquisadora que defendeu um doutorado sobre poesia italiana. Na Islândia, para sobreviver, vendo meu corpo de mãe. Vendo-o por hora. Vendo meu colo, meus braços, meu acalanto, minha paciência e […]

  • Vidas lado a lado

    Ana Rafaela de Sena
    N. 165 | 2025

    Minha mãe sempre sabe tudo. O que vamos comer, a hora de brincar, a hora de dormir, por que eu tenho cabelo preto, menos o porquê de meu pai ter ido embora. Já perguntei mas ela não me conta. Ela diz que ele decidiu e pronto. Pronto como? O almoço sempre está pronto às 12:00 […]

  • Vietnã 

    Wisława Szymborska
    N.164 | 2025

    Mulher, como você se chama? – Não sei.
    Quando você nasceu, de onde você vem? – Não sei.
    Para que cavou uma toca na terra? – Não sei.
    Desde quando está aqui escondida? – Não sei.
    Por que mordeu o meu dedo anular? – Não sei.
    Não sabe que não vamos te fazer nenhum mal? […]