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ancestralidade
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.: Carta sobre vó
Carta sobre vó
Marcela Helena Lopestrouxe um pouquinho de casa comigo. devorei tudo em dois dias. fui afoita, botando gomo após gomo de fruta após fruta na boca, acho que para ver se molhava um pouco por dentro. eu costumo ser muito cheia de água, mas percebo que estou secando. […]
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.: Carta em Matrioshka
Carta em Matrioshka
Camila ParducciVó,
Como você está?
Por aqui, as coisas vão crescendo, meus planos tomando forma e me sinto mais ativa de novo. Não que antes estivesse parada, o que acontece agora é que estou tendo mais espaço para mim. Minha bebê começou a andar, está mamando menos, consegue ficar mais tempo com outras pessoas […] -
.: Origem, confinamento
Origem, confinamento
Nina RizziGosto muito de contar as histórias de minha avó, de como minha mãe herdou os seus cheiros de lavadeira, doceira; de que fazia a própria massa e o molho do macarrão. Gosto de furtar histórias também, como aquela de a vovó amar mulheres e só ficarmos sabendo
no dia em que Joaquim, meu primo indiscreto, […] -
.: Os dias (não) passam sempre iguais
Os dias (não) passam sempre iguais
Mika Andradeos dias passam sempre iguais
e repetem
e repetem
e repetem o menino reclama ao longo do dia
chora por causa do agora ouço minha vizinha gritar exausta
que não aguenta mais essa menina
nojenta […] -
.: Relicário
Relicário
Hildália FernandesAntes de tudo, deixe-me apresentar-me. Sou a duquesa Labalábá. O nome herdei da bisa e faz referência e presta reverência à Ọya que rege e protege a minha família desde tempos muito antigos, ainda no continente africano. Dela herdamos, também, a coragem, a ousadia, a independência e o trato com a morte. Somos mulheres-búfalo. […]
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.: [O relógio…]
[O relógio…]
Barbara UilaO relógio
seguindo passos de
antes –
sufocou feridas.
Pedaços da renda da
toalha de mesa embranquecendo
o assunto do almoço
o vai e vem de panelas fumegantes
pra embalar uma fome ancestral […] -
.: Do desfiar ao tecer – Manto materno
Do desfiar ao tecer – Manto materno
Assunção de Maria Sousa e SilvaMinha avó Salu tinha um ofício cuidadoso. Quando menina, trabalhava no roçado: roçava, semeava, colhia, quebrava coco… Quando jovem, casou-se, teve cinco filhos e, com a reviravolta do tempo, ficou viúva e voltou à roça para sustentar os filhos, à mesma labuta na agricultura e pecuária […]
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.: Eu carrego tudo o que sou pelo meu ventre
Eu carrego tudo o que sou pelo meu ventre
Analu CristinaToda a dor do passado
as sementes germinadas
no útero de minhas avós
nutridas com seu sangue
suas lágrimas e sua força
eu carrego
os frutos de sua carne
galhos
trilhas tortuosas
tronco firme também […]