poesia marginal depressão desmame dignidade morte desamparo escrita-dos-dias ressentimento palavra dissidente racismo artes visuais comemoração não-maternidade brincadeira coragem irmãos resistência criança doença infância ruptura deficiência saudade linguagem tempo escuta marginália confinamento avó solidão falta resiliência expectativa relacionamento nascimento babás alegria dupla-maternidade leitura masturbação feminismo sexualidade menstruação gravidez ausência insegurança transição pandemia violência corpo tradição casa fecundação desencontro família culpa pertencimento livro rigidez fome angústia subjetividade suicídio enlouquecimento criação individualidade hormônios desejo conexão conflito separação adolescência desamor aborto com-a-maré loucura parto coletividade mãe-terra segredo descoberta medicina amizade escrita humilhação independência línguamãe migração desejar-é-revide diário futuro ritual apego escravidão exílio oração hospital aprendizado diversão trabalho mãe-solo aleitamento guarda-compartilhada segundo filho sexo dança luta cotidiano lesbianidade abandono choro contracepção colo autocuidado velhice desencanto amadurecimento mulher-negra gênero câncer sexismo lei dissidência utopia maternidade atípica desilusão travesti cuidado vícios cozinha intimidade memória vínculo medo herança encantamento ciúme exaustão ancestralidade amamentação umbanda distância submissão descendência sagrado psicanálise rotina raiva fragilidade saúde mental afeto amor lgbtqia+ dinheiro transgeneridade prostituição identidade acidente cansaço terra-grávida orgasmo dor candomblé isolamento puerpério sonho luto desespero empoderamento envelhecimento contínua crueldade acolhimento adoção pânico abuso frustração prazer inter-racialidade domésticas casamento silêncio educação desmistificação fertilidade carta amas-de-leite tarefa
  • .: Coisas que não quero saber [fragmento]

    Coisas que não quero saber [fragmento]

    Deborah Levy
    N. 89 | 2023

    Enquanto eu mordia a polpa doce e alaranjada do damasco, peguei-me pensando em algumas mulheres – na verdade, nas mães que ficavam no pátio da escola junto comigo esperando a saída dos filhos. Agora que éramos mães, éramos todas uma sombra de nossa antiga existência, perseguidas pela mulher que costumávamos ser antes de termos filhos. Não sabíamos o que fazer com ela, essa moça impetuosa e independente que nos seguia para todo lado, gritando e apontando o dedo enquanto empurrávamos o carrinho de bebê debaixo da chuva inglesa. Tentávamos retrucar, mas nos faltava a linguagem para explicar que não tínhamos simplesmente “adquirido” um filho – tínhamos nos metamorfoseado (um corpo novo e pesado, leite nos seios, programadas pelos hormônios para correr até nossos bebês quando choravam) em alguém que não compreendíamos de todo.

  • .: Dezessete anos [fragmento]

    Dezessete anos [fragmento]

    Colombe Schneck
    N. 88 | 2023

    Minha mãe veio à clínica. Nunca falaremos do que aconteceu naquele dia. Nem antes, nem depois.

    Eu e minha irmã ainda rimos de quando ela tentou conversar com a gente sobre menstruação. Tínhamos uns dez anos e ela nos interpelou apressada, escondida no vão da porta da cozinha.

    – Ah, meninas, vocês sabem o que é menstruação?

    Desatamos a rir. Ela pareceu tão desconfortável.

  • .: Caderno proibido [fragmento]

    Caderno proibido [fragmento]

    Alba de Céspedes
    N. 87 | 2023

    Esta noite me sinto sob o peso de uma grave humilhação. Talvez por ter feito uma coisa que até agora eu jamais tinha ousado fazer; ou melhor, não havia sequer imaginado poder fazer. Estávamos sentados na sala de jantar e Michele escutava o rádio; uma música que me fazia sentir leve, sonhadora, me comovia. Não sei que coisa me impeliu a falar; encontrava-me sob o influxo de uma força mais poderosa do que eu, à qual não podia, ou talvez não quisesse, resistir.

  • .: Marés

    Marés

    Virna Lins
    N. 86 | 2023

    Falar sobre maternidade é como atravessar as dunas de areia sobre pernas de pau. É preciso encontrar um equilíbrio entre as ideias e compreender sensações até então desconhecidas; permitir ser invadida por uma enxurrada de lembranças e reconhecer tantos sentimentos “à flor da pele” – que transbordam diariamente. Organizar isso em palavras não é simples – faz o outro me ver.

  • .: As pequenas virtudes [fragmento]

    As pequenas virtudes [fragmento]

    Natalia Ginzburg
    N. 85 | 2023

    No que diz respeito à educação dos filhos, penso que se deva ensinar a eles não as pequenas virtudes, mas as grandes. Não a poupança, mas a generosidade e a indiferença ao dinheiro; não a prudência, mas a coragem e o desdém pelo perigo; não a astúcia, mas a franqueza e o amor à verdade; não a diplomacia, mas o amor ao próximo e a abnegação; não o desejo de sucesso, mas o desejo de ser e de saber.

  • .: Quebrar resguardo

    Quebrar resguardo

    Carina Carvalho
    N. 84 | 2023

    como fosse a carne imenso
    instrumento reverberando vozes que passam a ser

  • .: Quarto trimestre

    Quarto trimestre

    Carina Carvalho
    N.83 | 2023

    sonho com uma praia de areia e luzes vermelhas e pessoas esperando o início de um evento. inquieta, eu percebia que estava ali há muitas horas e não tinha deixado leite para Ícaro. alguém dizia para não me importar com algo assim, que ele ficaria bem onde estivesse. eu seguia receosa e sentindo culpa.

  • .: Lili – novela de um luto [fragmento]

    Ela adorava minhas mãos, os dedos finos e uma coisa que eu não entendia e que ela admirava: como as falanges superiores dos meus dedos se dobravam. Ela detestava que seus dedos fossem duros e inflexíveis. Engraçado reparar nisso.

  • .: Pero las madres sabemos que no – Um coro de leitoras

    Queria escrever um email para meu filho de três anos. Não como correspondência para o futuro ou exercício de elaboração do turbilhão de emoções que ele me desperta. Meu desejo vem da aposta nas palavras escritas e lidas. Um êxtase em vislumbrar alguma legitimação, um ponto de encontro em nossos caos, mesmo sabendo que nunca haverá compreensão completa.