identidade envelhecimento leitura puerpério avó aborto velhice solidão transição choro rotina sonho fome família enlouquecimento angústia gênero desamparo suicídio amas-de-leite resistência desmame deficiência desamor palavra dissidente masturbação amadurecimento desencontro humilhação ressentimento resiliência conexão dança violência sexualidade terra-grávida línguamãe sagrado silêncio não-maternidade tradição loucura desencanto confinamento poesia marginal crueldade com-a-maré lesbianidade colo hormônios encantamento ancestralidade individualidade mulher-negra racismo irmãos cotidiano adoção saúde mental alegria falta artes visuais submissão linguagem coletividade carta descendência segundo filho desilusão cuidado exaustão dissidência cozinha comemoração abandono dinheiro adolescência fertilidade educação distância dupla-maternidade hospital desmistificação desejar-é-revide amamentação herança parto ausência sexo diversão vínculo expectativa pandemia casa feminismo escravidão autocuidado dignidade utopia segredo raiva doença transgeneridade coragem acolhimento futuro apego frustração câncer trabalho gravidez menstruação aprendizado subjetividade tempo descoberta candomblé independência insegurança empoderamento medo livro ritual isolamento lei diário depressão criação luto sexismo travesti domésticas abuso maternidade atípica brincadeira corpo prostituição conflito psicanálise acidente mãe-terra casamento separação relacionamento pânico escuta medicina aleitamento luta vícios exílio guarda-compartilhada saudade tarefa oração morte mãe-solo dor ruptura lgbtqia+ criança culpa orgasmo contracepção fecundação inter-racialidade rigidez pertencimento prazer marginália cansaço amizade fragilidade ciúme memória desejo desespero contínua escrita-dos-dias escrita afeto nascimento intimidade umbanda migração amor infância babás
  • .: Falta hereditária

    Falta hereditária

    Giovanna Genghini
    N.224 | 2025

    Há um mal que assola a minha família, entre mães, filhas e hospitais psiquiátricos. Minha avó se internou num hospício nos anos 1980. Até hoje não se fala disso, não sabemos por quê. Ela não foi boa mãe: uma vez arremessou um sapato de salto na testa da filha. Levaram minha mãe criança para um hospital. Na época, não havia ECA. Inventaram uma desculpa e passou batido. Minha mãe sempre chora e diz que não teve amor de mãe. Acho que minha avó não aprendeu a amar os filhos, só os teve.

  • .: Gesto de gravidade [fragmento]

    Gesto de gravidade [fragmento]

    Anna Luara da Silveira
    N.223 | 2025

    as mãos são ímãs
    deslizam magnéticas
    até o ventre
    gesto de gravidade

    ali
    um nadinha de toneladas
    a consciência da vida pesa

  • .:  Letras 

     Letras 

    Izabel Haddad
    N.222 | 2025

    desejo escrever
    me falta coragem de encarar o ritual do desencontro
    um mar de recuos
    receio e deixo o lápis mudo
    o papel impuro
    tenho medo de que veja nas frestas de ínfimos abismos
    o que do outro não se deve ver

  • .: Minha mãe

    Minha mãe

    Patrícia Franca
    N.221 | 2025

    Não me ensinaram a falar
    deram-me de pedir sem vestes.
    Não me ensinaram a fugir
    deram-me de ter rédeas caídas.
    Não me ensinaram a escrever
    deram-me de talhar uma tábua sobre o rio.

  • .: A filha

    A filha

    Tatiane Jesus
    N.220 | 2025

    Chora
    Pede colo para a mãe
    O telefone toca
    O leite derrama
    A menina febril
    Na carteira não há dinheiro
    Onde está o papai?
    Pergunta a filha
    Não pôde vir, diz a mãe

  • .: Oração

    Oração

    Ceres Soares Bifano
    N.219 | 2025

    Que meu corpo se livre do peso da impossibilidade de atender ao desejo do outro.
    Que meus braços abracem o mundo e por enquanto alcancem um pouco, mas apenas um pouco além do que eu acreditava ser possível.
    Que minhas mãos teçam, amassem, moldem, pintem, escrevam, que meus dedos apontem, entrelacem.
    Que meus olhos repousem fechados, mas que abertos estejam atentos para o céu, para os próprios movimentos, para outros olhares… bem fundo, entregues.
    Que minha boca profira o que for necessário para que eu não me engasgue com as palavras, mas que cuide de quem ouve.
    Que meus ouvidos ouçam tudo, mas que escutem com cuidado, e que venha para o peito o que é meu.

  • .: Niketche, uma história de poligamia [fragmento]

    E esse Deus, se existe, por que nos deixa sofrer assim? O pior de tudo é que Deus parece não ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa – sua esposa – intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é, de certeza, a cozinha celestial.

  • .: A contagem dos sonhos [fragmento]

    A contagem dos sonhos [fragmento]

    Chimamanda Ngozi Adichie
    N.217 | 2025

    Um fio branco solitário, com um leve brilho. Estiquei-o completamente, soltei e depois estiquei de novo. Não arranquei. Pensei: Estou ficando velha. Estou ficando velha, o mundo mudou e ninguém nunca me conheceu de verdade. Uma torrente de pura melancolia encheu de lágrimas meus olhos.

  • .: Cartas a uma negra [fragmento]

    Cartas a uma negra [fragmento]

    Françoise Ega
    N.216 | 2025

    […] onde moro, são cinco pares de pés para calçar, dez braços gelados para abraçar o meu pescoço, cinco cabeças que continuam a repousar no meu peito, embora eu force a barra para achá-los grandes demais e sabichões demais para isso.