submissão alegria pandemia ritual herança prostituição contracepção confinamento adolescência infância educação diversão rotina deficiência ciúme racismo desilusão fome dissidência apego línguamãe frustração umbanda acidente exílio escrita-dos-dias depressão luto aborto fertilidade doença angústia loucura travesti morte palavra dissidente utopia abuso cuidado separação corpo raiva amamentação isolamento intimidade amas-de-leite amadurecimento terra-grávida empoderamento conflito desejar-é-revide inter-racialidade feminismo fecundação mãe-terra escuta família dança subjetividade memória dignidade segredo diário saúde mental aprendizado oração mãe-solo adoção com-a-maré desamor relacionamento marginália desencanto insegurança pertencimento ancestralidade choro autocuidado fragilidade desamparo criança suicídio avó coletividade câncer cozinha identidade trabalho artes visuais desejo contínua lesbianidade lgbtqia+ orgasmo livro guarda-compartilhada medicina violência distância cotidiano resiliência vícios individualidade candomblé irmãos domésticas sagrado crueldade desmistificação ausência babás encantamento dor humilhação conexão parto segundo filho puerpério enlouquecimento criação brincadeira transição hormônios sexo escrita mulher-negra rigidez ressentimento linguagem hospital lei psicanálise gravidez descoberta abandono falta pânico colo independência escravidão sonho vínculo envelhecimento medo acolhimento luta casamento transgeneridade gênero solidão masturbação amizade poesia marginal dupla-maternidade coragem sexismo ruptura velhice migração desespero amor silêncio afeto culpa menstruação aleitamento exaustão resistência futuro tarefa casa prazer dinheiro tempo leitura não-maternidade desmame nascimento desencontro descendência tradição sexualidade cansaço comemoração saudade expectativa carta
  • .: A filha

    A filha

    Tatiane Jesus
    N.220 | 2025

    Chora
    Pede colo para a mãe
    O telefone toca
    O leite derrama
    A menina febril
    Na carteira não há dinheiro
    Onde está o papai?
    Pergunta a filha
    Não pôde vir, diz a mãe

  • .: Oração

    Oração

    Ceres Soares Bifano
    N.219 | 2025

    Que meu corpo se livre do peso da impossibilidade de atender ao desejo do outro.
    Que meus braços abracem o mundo e por enquanto alcancem um pouco, mas apenas um pouco além do que eu acreditava ser possível.
    Que minhas mãos teçam, amassem, moldem, pintem, escrevam, que meus dedos apontem, entrelacem.
    Que meus olhos repousem fechados, mas que abertos estejam atentos para o céu, para os próprios movimentos, para outros olhares… bem fundo, entregues.
    Que minha boca profira o que for necessário para que eu não me engasgue com as palavras, mas que cuide de quem ouve.
    Que meus ouvidos ouçam tudo, mas que escutem com cuidado, e que venha para o peito o que é meu.

  • .: Niketche, uma história de poligamia [fragmento]

    E esse Deus, se existe, por que nos deixa sofrer assim? O pior de tudo é que Deus parece não ter mulher nenhuma. Se ele fosse casado, a deusa – sua esposa – intercederia por nós. Através dela pediríamos a bênção de uma vida de harmonia. Mas a deusa deve existir, penso. Deve ser tão invisível como todas nós. O seu espaço é, de certeza, a cozinha celestial.

  • .: A contagem dos sonhos [fragmento]

    A contagem dos sonhos [fragmento]

    Chimamanda Ngozi Adichie
    N.217 | 2025

    Um fio branco solitário, com um leve brilho. Estiquei-o completamente, soltei e depois estiquei de novo. Não arranquei. Pensei: Estou ficando velha. Estou ficando velha, o mundo mudou e ninguém nunca me conheceu de verdade. Uma torrente de pura melancolia encheu de lágrimas meus olhos.

  • .: Cartas a uma negra [fragmento]

    Cartas a uma negra [fragmento]

    Françoise Ega
    N.216 | 2025

    […] onde moro, são cinco pares de pés para calçar, dez braços gelados para abraçar o meu pescoço, cinco cabeças que continuam a repousar no meu peito, embora eu force a barra para achá-los grandes demais e sabichões demais para isso.

  • .: Receita de despedida

    Receita de despedida

    Marina Apolinário
    N.215 | 2025

    Quero aprender a fermentar legumes, usar missôs, enfiar a faca num corte certeiro, temperar, não comer cru, nem queimar a boca. Sentir o gosto, a textura e o cheiro das palavras. Dizer das nozes-moscadas que ralei mais do que deveria e que, mesmo tão pequenas, roubaram o sabor do meu prato; das águas que ferveram demais e sujaram meu fogão; das comidas suculentas que me lambuzaram.

  • .: Mesmo com medo

    Mesmo com medo

    Beatriz Lobato
    N.214 | 2025

    Quando pequena, eu sentia o frio na barriga ao pular de um lugar alto, subir na torre onde ficava a caixa d’água no terreno do meu avô. Era divertido explorar o mundo olhando de cima, com aquela sensação agitada de saber que bastava segurar firme e tudo ficaria bem.

  • .: Invento de gente [fragmento]

    Invento de gente [fragmento]

    Ventura Profana
    N.213 | 2025

    Terezinha teve 16 filhos homens, com 16 pais diferentes.
    Só parou de parir quando Aline nasceu.
    Seu primeiro neto morreu no parto.
    Terezinha fugiu com o pequeno defunto numa caixa de sapatos.
    Não tinha dinheiro pra pagar os serviços funerários.

  • .: Auto amor

    Auto amor

    Jovina Souza
    N.212 | 2025

    Abro-me para os prazeres do mundo,
    das auroras e das estrelas.

    Com eles faço a cama onde me deito.
    Caso fiquem ainda os espinhos da vida,
    sou minha própria mãe, acaricio meus pés,
    lavo o corpo com alfazema, begericum
    e folhas de arruda para o afago das Deusas.