psicanálise criança sexismo angústia descoberta loucura amas-de-leite dupla-maternidade sexo palavra dissidente herança mãe-terra menstruação línguamãe lesbianidade rotina masturbação enlouquecimento utopia corpo morte violência segundo filho acidente dissidência descendência gravidez lgbtqia+ câncer carta independência brincadeira escrita-dos-dias dinheiro suicídio cozinha guarda-compartilhada frustração desmistificação relacionamento lei alegria vínculo escrita falta leitura dignidade culpa candomblé raiva transgeneridade conflito identidade umbanda escuta submissão cotidiano exílio mãe-solo memória intimidade ausência velhice aleitamento confinamento tradição oração autocuidado babás prazer ancestralidade ritual ciúme trabalho infância luta travesti coragem desejo cansaço migração tempo expectativa dança amamentação poesia marginal deficiência resiliência abandono amadurecimento tarefa hospital diário desamparo luto fragilidade gênero puerpério aborto casamento encantamento rigidez desencanto casa desespero orgasmo linguagem coletividade adolescência pandemia abuso acolhimento vícios marginália com-a-maré inter-racialidade saúde mental desejar-é-revide pertencimento colo choro sexualidade domésticas aprendizado ruptura fecundação separação diversão amizade individualidade insegurança feminismo mulher-negra hormônios criação distância terra-grávida segredo racismo comemoração contínua subjetividade artes visuais doença transição apego desmame resistência parto irmãos não-maternidade sagrado saudade cuidado ressentimento amor envelhecimento dor família avó medo adoção empoderamento solidão conexão educação futuro humilhação prostituição silêncio nascimento isolamento fertilidade escravidão desamor fome medicina exaustão desilusão afeto pânico sonho crueldade livro depressão desencontro
  • .: Desejar é revide

    Desejar é revide

    Marina Apolinário
    N.203 | 2025

    Penso sobre corpo. Penso sobre o corpo nas minhas lembranças de infância – de quando ele brincava dócil na casa patroa, do choro das estrias por ter crescido demais, do incômodo pela chegada dos peitos que atraíam olhares, do olhar torto quando cheguei nos brancos e contrastei minha pele. Penso sobre corpo, no pudor da igreja e na dureza de aprender a escondê-lo atrás de um trabalho em caso de dor. Uma vez, eu ainda menina, me deram um prestobarba e me pediram para raspar os pelos do sovaco que começavam a despontar. Essa senhora me dava a navalha e dizia: “gente da sua cor pode feder com esses cabelos”.

  • .: Terra grávida

    Terra grávida

    Trudruá Dorrico
    N.202 | 2025

    Erepankî. Ewonkî. Eretekî. Pri’ya nan?
    É dessa maneira que, quando as parentas makuxis vão chegando na casa de uma yonpa (parente), são saudadas e cumprimentadas. Chegue. Entre. Sente-se. Você está bem?

    Assim, repito aqui o mesmo cumprimento que fazem as minhas ancestrais. Chegue nestes poemas, cultivados por mulheres indígenas das nações Makuxi, Guató, Wassu-Cocal, Puri, Potiguara, Aranã, Guarani, Kariri, Galibi-Marworno, Mura, Wapichana, Afuá/Marajoara, Itaquêra. Entre nas palavras ancestrais das dezessete poetas aqui reunidas e sente-se para escutar o pensamento que a partir de suas palavras-flechas lança-se sobre a terra, a gravidez, o endométrio, o útero, os filhos, o sonho, a ausência, conselhos, eventos e sentimentos que circundam sua floresta-vida.

  • .: Conselhos

    Conselhos

    Vanessa Brandão
    N.201 | 2025

    Escuta aqui meu filho
    não se deve perder um dia de sol
    nem se apressar quando bate um vento Cruviana
    nem sair do carro antes daquela música bonita acabar.
    Jamais, entende?
    A não ser que esteja prestes a beijar uma pessoa.
    Pessoas são sempre uma grande experiência
    todas elas têm no coração um lugar chamado sinoatrial
    que gera impulsos elétricos.
    Não há explicação. Simplesmente pulsa.
    Então respeite porque toda pessoa é também um milagre
    e há pessoas bicho, planta, serra.

  • .: Poema do útero

    Poema do útero

    Trudruá Dorrico
    N.200 | 2025

    Eu não vim calma.
    Eu vim rasgando o mundo
    sem anestesia para aplacar
    minha fúria de viver.

    Cheguei ainda fraca –
    No entanto pronta:
    pro mato
    pro mosquito
    pra morte.

  • .: Alcançar com as mãos

    Alcançar com as mãos

    Sony Ferseck
    N.199 | 2025

    Alcançar com as mãos
    o útero da terra
    percorrer com os dedos
    a linguagem da terra
    a fala das pedras
    os grãos da voz
    que a água acalenta.

    Tirar do pó o mistério da existência
    matéria mesma das mãos nas mãos
    das mães do barro
    Koko’ Non.

  • .: E deixar-se parir

    E deixar-se parir

    Aline Rochedo Pachamama
    N.198 | 2025

    Uma pessoa deve renascer durante a vida. Deve encorajar-se a estar no ventre da Mãe Terra e deixar-se por ela parir. Experienciar a força de uma nova luz a cegar os olhos. E, depois, olhar o mundo que não existia antes.

    Pachamama, Inhã Uchô, Mãe Terra, Terra Mãe, Floresta, Pulsar, Gerar, Parir! Somos paridas pela Terra Mãe e precisamos estar em seu útero algumas vezes para entender toda a sua amplitude, generosidade e força. No Útero da Mãe eu estou. Deixo-me gestar, curar e ser parida pela Mãe Inhã Uchô em ciclos que me curam e fortalecem. Eis a intenção deste singelo escrito, desta semeadura.

  • .: Maternidade indígena

    Maternidade indígena

    Márcia Mura
    N.197 | 2025

    Mãe da nação com o corpo/espírito/território violado.
    Antes dos invasores, risos com os curumins e cunhantãs banhando-se nos rios, lagos, igarapés, fazendo roçado e coleta na floresta, nas campinas, nos cerrados, nos lavrados, ensinando a pedir licença para a mãe dos lugares sagrados.
    Maternidade indígena com direito a parto tradicional.
    Maternidade indígena no hospital é direito violado e apagamento colonial que se impõe. Registro oficial?
    Pardo.

  • .: Essência Divina

    Essência Divina

    Lucia Tucuju
    N.196 | 2025

    Mulher, flor que enfeita a vida
    natureza pura e pulsante
    raiz da terra que frutifica.
    Ventre sagrado só ela tem
    de suas entranhas nasce o ser.
    Raízes que fincam no chão
    seu leite alimenta e fortalece.
    Maternidade é força divina,
    dom que só à mulher é concedido.

  • .: Ary 

    Ary 

    Janaú
    N.195 | 2025

    o futuro cabia nas minhas mãos
    ele andava atrás de mim
    o passado ia na frente
    desenhando dilúvios

    as rochas testemunhando
    o desenrolar dos milênios
    l e n t a m e n te
    o horizonte com todos os tipos
    de aves migrando
    para o despertar
    que não é nada
    nada de novo