subjetividade fecundação enlouquecimento cozinha memória morte pertencimento colo deficiência transição domésticas afeto orgasmo ruptura insegurança conexão raiva sexismo segundo filho depressão línguamãe utopia babás autocuidado vínculo prazer migração cuidado nascimento desilusão inter-racialidade marginália futuro tempo dignidade velhice carta aborto descendência empoderamento ausência escrita-dos-dias racismo separação escravidão brincadeira ritual trabalho saúde mental sexo irmãos acidente artes visuais desamor ressentimento desmame dinheiro saudade medo coragem avó coletividade frustração leitura diário choro fragilidade desmistificação dança resistência linguagem resiliência falta suicídio encantamento rigidez desespero hormônios desencontro terra-grávida infância gravidez criação isolamento livro masturbação amizade oração gênero escrita fertilidade amadurecimento mãe-solo medicina travesti luta humilhação família confinamento apego desejo identidade menstruação guarda-compartilhada lei dupla-maternidade tarefa educação não-maternidade cansaço aprendizado luto umbanda câncer relacionamento conflito prostituição silêncio adoção desamparo ciúme feminismo solidão mulher-negra amas-de-leite alegria vícios desencanto intimidade abandono dor diversão tradição aleitamento adolescência culpa pandemia criança transgeneridade dissidência angústia parto comemoração violência crueldade rotina escuta distância casa amamentação expectativa descoberta sonho lesbianidade submissão psicanálise doença palavra dissidente desejar-é-revide fome hospital poesia marginal mãe-terra herança casamento amor corpo independência contínua exaustão pânico cotidiano individualidade candomblé ancestralidade sagrado puerpério abuso acolhimento lgbtqia+ envelhecimento segredo loucura sexualidade com-a-maré exílio
  • .: cotidiano

    cotidiano

    Emmanuelle Rosa
    N.176 | 2025

    não tem ninguém esperando no banquinho de cimento na frente do portão
    cotidiana é a saudade de um amor que me levante
    mesmo que a dor seja em outro lugar

  • .: Tempo

    Tempo

    Dara Ayê
    N.175 | 2025

    Às vezes
    eu queria abraçar o tempo
    para que o tempo se acalme.

    Eu
    acostumada a chegar aos lugares
    sempre cedo demais ou tarde demais.
    Nunca a tempo.

    Eu que caminho tarde adentro
    como se estivesse prestes a perder
    o último metrô.

  • .: anti-memória

    anti-memória

    Bruna Stéphane Oliveira
    N.174 | 2025

    saudade do vão da escada onde nunca me sentei a crochetar
    pintar fitar o nada; contar do teto cada ponto mancha vinco.
    saudade. da tinta opaca nunca pegada à parede da sala.
    saudade de cada recado jamais escrito na lousa-casa-não-ter-
    sido. das festas tantas varando a noite e a madrugada anti-
    silêncio anti-lei ou nada. saudades da comida não preparada
    louça-peças-pedaços-nós nunca comprados.

  • .: Garota, mulher, outras [fragmento]

    Garota, mulher, outras [fragmento]

    Bernardine Evaristo
    N.173 | 2025

    elas entraram em cena há sete e três anos, respectivamente, e são mulheres independentes que têm vidas cheias (e filhos) fora do relacionamento com ela

    não são grudentas nem carentes nem ciumentas nem possessivas, e de fato gostam uma da outra, então, sim, às vezes elas se permitem um pequeno ménage à trois

  • .: Ancestralidade feminina

    Ancestralidade feminina

    Bella Bettoni
    N.172 | 2025

    O amor é como um bordado:
    meu nome gravado nas toalhas com as letras cuidadosamente desenhadas,
    o crochê das tias, dedos que dançam para escrever o afeto,
    as roupas costuradas pela avó com os restos dos sacos,
    a bainha da calça feita pela mãe,
    também eu – interessada nas arpilleras hermanas – compro novelos no mercado central.

    Costurar, remendar, cravar no tecido (da pele) a história.

  • .: Re-escrituras para Cintura Fina

    Re-escrituras para Cintura Fina

    Bárbara Macedo
    N.171 | 2025

    É sabido que a imprensa ainda utiliza a lógica transfóbica para se referir a nós, pessoas trans. Nos matando em suas manchetes mesmo quando o corpo já não respira e o sangue já não circula. Mas me chama a atenção a associação de Cintura Fina a uma malandra, já que naquela lista, além de “refinada malandra”, constavam ainda “malandra incorrigível” – que eu acho lindo – e “malandra”. Somente “malandra”.

     

  • .: Rilke Shake [fragmento]

    Rilke Shake [fragmento]

    Angélica Freitas
    N.170 | 2025

    na rua, minha mão
    deslizava por sua cintura, ela
    ria, não dizia nada
    quando dizia era
    não se acostume
    comigo

    logo você
    vai
    embora.

  • .: No lugar de um prefácio

    No lugar de um prefácio

    Anna Akhmátova
    N.169 | 2025

    “Nos anos terríveis da Iejovshtchina, passei dezessete meses fazendo fila diante das prisões de Leningrado. Um dia alguém me “reconheceu”. Aí, uma mulher de lábios lívidos que, naturalmente, jamais ouvira falar em meu nome, saiu daquele torpor em que sempre ficávamos e, falando pertinho do meu ouvido (ali todas nós só falávamos sussurrando), me perguntou:
    – E isso, a senhora pode descrever?
    E eu respondi:
    – Posso.
    Aí, uma coisa parecida com um sorriso, surgiu naquilo que, um dia, tinha sido o seu rosto.”

    Leningrado 1o/4/1957

  • .: Sobre amor e genética [fragmento]

    Sobre amor e genética [fragmento]

    Luísa Rocha Vasconcelos
    N.168 | 2025

    Comecei a pensar na maternidade e na solidão da minha mãe numa segunda à noite. Ela tem mãe, irmã e sobrinhos, e ainda assim há momentos em que ela não escapa ao abandono que vem junto com o papel de mãe solo – um deles se apresentou logo no início desta semana, às 22h50, envolvendo um carro com documento vencido e uma blitz a dez minutos de casa.