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  • .: Maternidade wapichana

    Maternidade wapichana

    Jama Peres Pereira
    N.194 | 2025

    A maternidade para a mulher wapichana acontece entre regras e tradições, o que garante um caminho saudável para gestar e criar seus filhos.

    Escrevo aqui as memórias que trago desde a infância, de como vi minha mãe wapichana cuidar da sua maternidade, sempre acompanhada pela família. Mesmo com os trabalhos árduos do dia a dia, ela cuidava do seu corpo e da sua gestação. Observava atentamente a higiene, a alimentação e todos os rituais que envolviam o nascimento de cada um dos meus irmãos. Desde pequenos, ela nos transmitia os ensinamentos que aprendeu com nossas avós.

  • .: Sombras do parto

    Sombras do parto

    Gleyccielli Nonato Guató
    N.193 | 2025

    Quando uma mulher dá à luz, seu corpo se quebra em milhares de pedaços.
    Seu coração salta bombardeando sentimentos, ainda… às vezes… e talvez… obscuros.
    Incompreendidos. Bons e ruins.
    O que mais lhe causa medo é a insegurança.
    A certeza de que a partir daquele dia
    tudo estará incerto.
    Mil e uma coisas passam por nossas mentes, mas a dor não deixa.
    Só a dor ocupa o lugar de destaque.
    Só a dor te faz viver.
    De repente, um alívio.

  • .: Terra filha

    Terra filha

    Geni Núñez
    N.192 | 2025

    A terra é só mãe?
    Ela também é irmã?
    Também dança, também cansa, também chora e se alegra?
    A terra também é filha?
    A terra cuida, mas também quer cuidado.
    A terra tem um eu, tem uma identidade?
    Tem uma identidade só?
    A terra diz eu sou?
    Tem uma consciência só?
    E se a terra quiser ser só areias, folhas, gotas, sem dar a isso contorno algum? Sentido nenhum? Seria então uma mãe desnaturada?

  • .: Se eu inexistisse

    Se eu inexistisse

    Fernanda Vieira
    N.191 | 2025

    Mãe, eu tentei ficar quieta como me pediram
    Eu silenciei minha presença
    Tentei não fazer volume em nenhum cômodo
    Comi sem fazer barulho e bem rápido, depois que todos comeram
    Brinquei obrigada com filho de patroa, com filha de patroa
    Fiquei em pé, no canto, sem tocar em nada, rezando para ser invisível
    Ignorei os olhares de cima a baixo
    Ignorei as ofensas
    Ignorei as migalhas
    Ignorei os brinquedos quebrados
    Engolia minhas palavras com medo

  • .: Não congelarei óvulos nem expectativas

    Não congelarei óvulos nem expectativas

    Ellen Pirá Wassu
    N.190 | 2025

    te amo tanto criança
    que não te quero
    neste mundo
    apesar de tantos apelos preocupados com
    “quem vai cuidar de você na velhice?”
    ou qual fralda de plástico é mais eficaz
    entre as fraldas de plástico do mercado

    não
    congelarei
    óvulos
    nem
    expectativas

  • .: Brasil

    Brasil

    Eliane Potiguara
    N.189 | 2025

    Que faço com a minha cara de índia?
    E meus cabelos
    E minhas rugas
    E minha história
    E meus segredos?

    Que faço com a minha cara de índia?
    E meus espíritos
    E minha força
    E meu tupã
    E meus círculos?Extraído de Eliane Potiguara. Metade Cara, Metade Máscara. São Paulo: Global, 2004.

  • .: Endometriose

    Endometriose

    Débora Arruda dos Santos
    N.188 | 2025

    as minhas pernas não existem mais
    depois que o sangue escorreu
    gota por gota ele desceu
    pouco e insuficiente
    para fazer transbordar o seu copo
    cheio de silêncio

    as suas doses diárias não devem chegar
    a uma quantidade satisfatória
    pois algumas palavras como exagero
    e frescura
    continuam sendo ditas
    nos melhores e mais esforçados
    tons de deboche

  • .: Meu amor

    Meu amor

    Cláudia A. Flor d’Maria
    N.187 | 2025

    Chegaste assim… sem pedir licença.
    Quando dei por mim, tu já estavas aqui, dentro de mim,

    Chegaste no rastro do bem-te-vi.

    Quando dei por mim, tu já eras dono das minhas vontades.

    Chegaste assim… sem pedir passagem.
    Quando dei por mim, tu já estavas junto a mim,
    Chegaste assim… sem bagagem.

  • .: O pé de manga, Útero, Filha de artesã

    O pé de manga, Útero, Filha de artesã

    Barbara Kariri
    N.186 | 2025

    Eu plantei um pé de manga para o meu neto. O neto do meu neto chupa as mangas do pé de manga que eu plantei. As abelhas também degustam as mangas do pé de manga que eu plantei. Eu, o pé de manga, meu neto e as abelhas alimentamos a terra que sustenta as raízes da mangueira. As raízes da mangueira estão na terra e nos meus fios de cabelo que são a continuidade da minha avó.

    Minha avó sou eu, só que abelha, terra, manga
    e o silêncio!